Título da redação é obrigatório no vestibular
26 de novembro de 2012Alunos de Eja promovem Feira de Estudos no Armazém Cultural
10 de dezembro de 2012Conforme temos observado, nem tudo foram mudanças no que se refere ao sistema de hifenização do português. Louve-se o novo Acordo por ter tentado ser coerente, buscando seguir um princípio único.
Esse princípio é o de separar letras iguais quando uma delas é a final de um prefixo e a outra é a inicial da palavra subsequente. Assim: mega-apagão, entre-eixo, anti-inflacionário, micro-ondas, super-resistente, sub-base etc.
Vejamos agora o que ocorreu especificamente com os prefixos terminados com a letra “-b”: hífen diante de outro “b-”, mas também diante de “r-” e diante de “h-”. Se, porventura, tivéssemos uma palavra como “subreitor” (sem o hífen), como a leríamos? Sim, como “abraço”, “breque”, “broca” etc. Percebemos, então, a utilidade do hífen nesse caso, pois é o sinal que nos remete à pronúncia correta da palavra. Temos, portanto, “sub-reitor”, “sub-região” etc.
Nesse ponto, não houve mudança. Muita gente, porém, hesita ante grafias como “subtotal” ou ”subtropical”, pondo-se a imaginar que teriam hífen, mas, ao mesmo tempo, quase ninguém pensa em hifenizar uma palavra como “subterfúgio”. O leitor atento já percebeu que, formalmente, essas três palavras são muito parecidas (depois de “sub-” vem a letra “-t”), todas corretamente grafadas sem hífen.
É normal que as pessoas tenham esse tipo de hesitação, pois, em palavras como “subtotal” ou “subtropical”, a presença do prefixo é facilmente perceptível — afinal, usamos as palavras “total” e “tropical” sem o prefixo, coisa que não ocorre com “subterfúgio”, palavra que herdamos do latim já “pronta” (“subterfúgio” vem de um verbo latino que significava “fugir às escondidas”, “esquivar-se”, “tergiversar”; a prefixação ocorreu no próprio latim, de modo que não nos é facilmente perceptível). Em suma, quando percebem o prefixo, as pessoas tendem a usar o hífen, mas esse não é um bom critério, pois vai funcionar apenas uma vez ou outra por mera coincidência com alguma regra.
Dito isso, retomemos: “sub-” requer hífen antes de “-b”, “-r” e “-h”. Com a letra “h”, agora sim, temos mudança e já houve até polêmica. Isso porque a palavra que resulta da junção do prefixo “sub-” com o adjetivo “humano” antes se grafava “subumano”, mas, à luz das mudanças, o “h” deveria voltar à cena. A solução era simples: passaríamos a escrever “sub-humano”, como, aliás, muita gente já fazia antes…
Num primeiro momento, esse caso provocou dúvida e divisão. Por se tratar de palavra muito usada (na expressão condições subumanas de existência, por exemplo), havia uma familiaridade com a sua forma, já desprovida do “h” (como ocorre com “desumano” e ”inumano”). Fazer voltar uma letra eliminada é sempre complicado, mas, ao mesmo tempo, satisfaria a coerência do sistema.
Examinados os prós e os contras — “subumano” é a grafia consagrada, mas “sub-humano” satisfaz a coerência do sistema; “subumano” não faz voltar uma letra já eliminada, mas muita gente já escrevia “sub-humano” por engano –, não se chegou a uma conclusão. Resultado: as duas grafias são oficialmente corretas, segundo o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.
Perguntará o leitor: tanto faz? Sim, tanto faz, mas note que a pronúncia da palavra é uma só, independentemente da grafia escolhida. É muito comum ouvirmos pessoas pronunciarem um “i” inexistente depois do prefixo “sub-” (dizendo algo como “súbi-humano”), mas a palavra é “subumano” (sem o “h”, ocorre menos confusão na leitura). “Sub-humano” lê-se exatamente da mesma maneira que “subumano”. O apoio vocálico do “-b” do prefixo é o “u” de “humano”, já que “h” é uma letra muda.
Em nome da coerência, num mesmo texto é importante escolher uma das formas. Quem sabe, futuramente, uma sobressaia à outra e se fixe definitivamente.
Esse par de grafias não foi o único a preservar a dupla interpretação. Coisa curiosa ocorreu com o termo “abrupto”, cuja pronúncia correta — e quanto a isso os puristas não têm a menor dúvida — é (e sempre foi) “ab-rupto”. Na edição anterior do Vocabulário Ortográfico, tínhamos apenas a grafia “abrupto”, em geral associada à pronúncia “bru” (como “de bruços”), esta frequentemente corrigida — pelos puristas, diga-se — para “ab-rup-to”.
A Academia Brasileira de Letras aparentemente aproveitou a oportunidade da “reforma” para acrescentar ao vocabulário oficial a grafia “ab-rupto”, mas não teve coragem de eliminar a mais que consagrada forma “abrupto”, acompanhada de sua pronúncia cotidiana (“bru” mesmo). Aqui valem as duas grafias e as duas pronúncias.
Note-se que o prefixo “ab-”, segundo a regra, deve mesmo prender-se por hífen a termos iniciados por “-r” (“ab-rogar”, “ab-rupção” etc.), o que valida a volta do “ab-rupto”, mas a pronúncia corrente (e consagrada) tende a rejeitar essa forma. Como vemos, as exceções sempre têm sua razão de ser.
Fonte: Folha de S. Paulo