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20 de agosto de 2013Primeira professora com Síndrome de Down do Brasil, Débora Seabra, 32 anos, precisou enfrentar uma série de temores e preconceitos para conseguir concluir os estudos, entrar para o mercado de trabalho e, agora, publicar o seu primeiro livro. As dificuldades começaram em casa. No início da década de 1980, quando Margarida Seabra deu à luz a uma menina diferente das demais, a mãe foi “ao fundo do poço” e não conseguia aceitar a situação. Mas o amor pela filha foi maior. A promotora pública rompeu o preconceito e buscou ajuda para que a caçula fosse tratada com igualdade, sendo em casa, na escola ou no trabalho. Hoje, Débora coleciona uma série de vitórias e virou exemplo da luta pela inclusão de pessoas com deficiência intelectual nas escolas regulares.
“Hoje o mundo é diferente, as crianças com Down estão estudando, fazendo faculdade. Mas quando a Débora nasceu foi terrível. Eu desejei que ela morresse”, conta Margarida, ao afirmar que a filha sempre soube da rejeição inicial. “Temos uma relação muito transparente. Eu sempre digo que precisei vomitar todo o sofrimento, ir ao fundo do poço, para conseguir encarar o problema”. O amor superou a diferença e em pouco tempo ela passou a admirar a sua pequena. Foi aí que a família sentiu a necessidade de buscar ajuda.
Naquela época, com pouca informação sobre o acompanhamento de pessoas com Down, Margarida e o marido descobriram uma clínica em São Paulo que oferecia apoio de psicólogos, fisioterapeutas e fonoaudiólogos. Eles passaram a visitar o local pelo menos quatro vezes por ano, mas perceberam que outras famílias na mesma situação não tinham condições financeiras para deixar o Nordeste em busca de ajuda na capital paulista. Decidiram então criar uma associação e ensinar para outros pais o que aprendiam em São Paulo. “Passávamos para eles os exercícios de fisioterapia, de fonoaudiologia que aprendíamos”. A associação cresceu e no próximo sábado completa 30 anos.
“Com essa equipe multidisciplinar eu aprendi que não podia mudar a minha rotina, o meu trabalho, porque tinha uma filha com Down. Eles ensinaram que ela precisava de estímulos, mas que deveria ser tratada como uma pessoa comum. Foi o que eu fiz”, conta Margarida, que hoje está aposentada do Ministério Público e focada nas ações da associação. Débora cresceu tendo as mesmas regalias e cobranças que o irmão mais velho e nunca frequentou uma escola especial.
Profissão: professora
Débora falou com o Terra por telefone, logo após chegar em casa depois de uma manhã de atividades na Escola Doméstica, uma tradicional instituição de ensino particular de Natal. Defensora da inclusão, ela contou que lembra de uma situação difícil na escola: quando um colega a chamou de mongol. “Foi só essa vez no colégio e depois no magistério tinha um pouco de preconceito também. Mas no trabalho não”, afirmou, ao frisar que tanto os alunos quanto os demais professores sempre a respeitaram.
Débora estudou em escolas particulares, fez aulas de dança, de teatro, e quando estava na oitava série decidiu que queria ser professora. Cursou por quatro anos o ensino médio integrado ao magistério e passou a estagiar na Escola Doméstica. Já são nove anos trabalhando no turno da manhã, com alunos da educação infantil.
Segundo a diretora da escola, Débora não recebe salário, atua como voluntária por decisão da família. “Eles queriam que ela aprendesse sobre o mundo do trabalho, então aceitamos que ela trabalhasse como professora assistente. Como deu tão certo, ela continuou”, disse Angela Guerra Fonseca. Atualmente, Débora atua como professora assistente em uma turma do primeiro ano do fundamental, ajuda os alunos com mais dificuldades durante a aula, leva a classe para a merenda e para as oficinas. “Nunca tivemos nenhum problema, ela sabe bem as suas tarefas e nunca chegou atrasada”, comemora a diretora.
Segundo Angela, além de colaborar com um projeto social de inclusão, a escola tem um benefício maior: todos os seus alunos aprendem a respeitar quem é diferente. “Tivemos um caso bem curioso na semana passada. Um pai chegou aqui e disse que viu na TV que uma das professoras do filho tinha Síndrome de Down. Ele estava impressionado porque a criança nunca comentou sobre isso em casa. Esse fato mostra o quanto é natural para os nossos alunos a presença da Débora.”
Segundo a mãe, a decisão de não receber salário está relacionada a uma questão legal: a família luta pela aprovação de um projeto de lei no Estado para que as pessoas com deficiência intelectual possam trabalhar sem perder a pensão que recebem (o valor seria reduzido em 30%, mas não extinto). Uma lei semelhante já foi aprovada em nível federal, mas cada unidade da federação precisa de lei própria para que a regra tenha valor no plano local. “É uma segurança para que eles possam entrar no mercado de trabalho”, defende Margarida.
Para Débora, recebendo ou não salário, o principal é continuar dando aulas. “Gosto da escola. Quero seguir fazendo isso, e defendendo a inclusão”, disse ao lembrar das palestras que dá em todo o País e até no exterior sobre a importância de inserir as pessoas com Down na escola regular. Ela ainda está empolgada com o lançamento do primeiro livro, de fábulas infantis. “Débora conta histórias”, da editora Araguaia Infantil, já está à venda nas livrarias, mas o lançamento oficial vai ocorrer com uma festa no dia 5 de setembro, no Solar Bela Vista, em Natal.
Fonte: Terra