Armazém Cultural – 1ª Feira da Saúde
30 de maio de 2014Casa lar
11 de junho de 2014São Paulo – A língua portuguesa e suas regras gramaticais podem pregar “peças” em concurseiros não habituados a suas polêmicas. O alerta vem do autor de “A Gramática para Concursos Públicos” (Elsevier), o professor Fernando Pestana.
É que existem alguns temas de português em que os gramáticos divergem e, sabendo disso, bancas examinadoras podem adotar posicionamentos diferentes entre si.
Assim, uma regra gramatical que pode valer para a Fundação Carlos Chagas (FCC) pode não ser a mesma adotada nos gabaritos do Cespe, por exemplo.
Apesar de mais raros, há até casos de uma mesma banca aceitar uma regra em um ano e mudar no concurso seguinte, segundo o professor Pestana. “O próprio Cespe, às vezes, é uma banca incoerente e já adotou posicionamentos diferentes sobre a mesma regra”, conta o professor que passou dois anos estudando as diferenças de visões entre os gramáticos.
O que fazer a respeito disso?, podem se perguntar muitos concurseiros. A dica do professor é estudar o perfil das bancas e conhecer quais os temas polêmicos da nossa língua.
“Quanto mais você conhece seu inimigo, mais chances você tem de vencê-lo, portanto é melhor que você saiba que as polêmicas existem e que elas caem em prova de concurso do que ficar sem pai nem mãe no dia da prova”, diz Pestana, que aborda grande parte das divergências entre os estudiosos na sua gramática.
A seguir, confira 3 dos temas polêmicos e, ao fim da matéria, baixe questões de concursos públicos que mostram que bancas examinadoras podem “tomar partidos diferentes” em suas provas, com gabarito comentado pelo professor Pestana:
1ª Verbo “implicar” com sentido de acarretar
“Grande parte dos gramáticos ensina que a regência do verbo implicar, com sentido de acarretar, é direta, ou seja, ele não exige complemento preposicionado”, explica o professor. Exemplo: Toda ação implica uma reação.
Mas, diz o professor, há quem reme contra esta corrente. “Dois gramáticos consagrados, Celso Pedro Luft e Rocha Lima, ensinam que a regência indireta também procede, ou seja, ele pode ter um complemento iniciado pela preposição ‘em’”, explica. Na visão dos dois gramáticos, a frase “toda ação implica em uma reação” está correta.
O IBFC e a Fundação Dom Cintra são exemplos de bancas que adotam posicionamentos diferentes, como mostram as questões de concurso ao fim desta matéria.
2ª Verbo “visar” com sentido de almejar, objetivar
Muitos gramáticos ensinam que a regência do verbo visar, com sentido de almejar, é indireta. Assim, o complemento iniciado pela preposição ‘a’ é obrigatório. Exemplo: Todos visavam a um cargo de prestígio.
Mas, para gramáticos como Celso Pedro Luft e Domingos Paschoal Cegalla, por exemplo, a regência direta também está correta. “E eles não são os únicos gramáticos com essa visão. São, pelo menos, seis estudiosos”, diz Pestana. Sob esta visão, o complemento sem preposição também é aceito. Exemplo: Todos visavam um cargo de prestígio.
Vunesp e Cespe são duas bancas que divergem neste tema. O que vale para uma não vale para outra. Ao fim da matéria, baixe questões destas bancas que comprovam os posicionamentos diferentes.
3ª Sujeito preposicionado
“Apesar do Brasil ser um país maravilhoso, ainda há muita corrupção” ou “ Apesar de o Brasil ser um país maravilhoso, ainda há muita corrupção” ? Qual é o certo?
“A maioria dos gramáticos ensina que não pode haver contração de preposição com artigo ou pronome antes do sujeito de um verbo no infinitivo”, diz o professor Pestana. Assim, a primeira frase estaria errada.
Mas o tema é polêmico e o gramático Evanildo Bechara considera as duas frases corretas. “Ele e outros estudiosos entendem que não há erro gramatical na contração da preposição com o determinante que compõe o sujeito”, diz Pestana.
Fonte:
Revista Exame