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16 de dezembro de 2014Fazer uma pós-graduação significa abrir mão das horas de lazer e, nos momentos mais críticos, varar madrugadas em favor dos estudos. Você pode dar um salto na carreira, mas deve mirar bem o terreno em que pretende pousar. Para isso, é bom saber quais setores da economia estão aquecidos.
Na visão do presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), Mariano Laplane, o contexto econômico é extremamente favorável para quem faz uma pós. O Estudo Mestres 2012, do CGEE, revela que um profissional com título de mestre ganha 84% mais do que outro que fez apenas graduação. Seguindo para um doutorado, o incremento na renda pode ser de mais 35%. “Como não sobra mão de obra altamente qualificada no Brasil, o mercado recompensa em salário o esforço de quem estuda”, diz Laplane.
Ciência e tecnologia em alta
O Brasil é uma das maiores economias do mundo e grande exportador de commodities agrícolas e minerais. Mas precisamos alcançar um crescimento ancorado na produção de bens de alto valor agregado – o que pressupõe uma indústria forte e inovadora. Aí entra uma limitação: faltam talentos para promover o desenvolvimento científico e tecnológico.
O governo federal incentiva a formação de mão de obra qualificada por meio de duas ações. O Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG 2011-2020) tem como focos a expansão e o aprimoramento do sistema de pós, definindo uma agenda de pesquisa estratégica. E o programa Ciência Sem Fronteiras leva estudantes para estudar no exterior, em áreas consideradas estratégicas para o desenvolvimento do país – primazia para a grande área de Ciência e Tecnologia. “O objetivo é atender às necessidades tanto da academia quanto do setor produtivo”, explica Lívio Amaral, diretor de Avaliação da Capes.
Áreas aquecidas
Ciência e tecnologia é um grande guarda-chuva que cobre diferentes setores da economia que se expandem com rapidez e estão em constante processo de renovação – seja na agropecuária, seja na indústria ou serviços.
Agronegócio
Afora a posição de destaque mundial na produção de algumas das mais importantes commodities, o Brasil é líder no desenvolvimento de máquinas e equipamentos agrícolas, bem como na geração de tecnologia para aumentar a produtividade de plantações e criações. O setor bate recordes a cada ano e os investimentos não param de aumentar.
Tecnologia de Informação (TI)
Segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), o déficit de mão de obra no setor chega a 45 mil profissionais em 2014. O Brasil se destaca na criação de softwares avançados. O programa Start Up Brasil, do Ministério da Ciência e Tecnologia incentiva o empreendedorismo na área de TI. O programa oferece a projetos inovadores apoio financeiro e busca de empresas (aceleradoras) o suporte tecnológico e administrativo.
Saúde
O país precisa melhorar a infraestrutura e ampliar os serviços de saúde. O governo federal implantou o plano Mais Médicos, que convoca esses profissionais para a periferia das grandes cidades e localidades mais afastadas dos grandes centros. “Quem faz pós-graduação em ciências biomédicas, seja na área de diagnóstico, seja na produção de equipamentos, está muito bem empregado porque o setor está em franca expansão, e trabalha com um nível de tecnologia muito sofisticado, de padrão internacional”, afirma Divonzir Gusso, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Infraestrutura e construção civil
Com a retomada do crescimento, o Brasil voltou a movimentar a indústria da construção, tanto no segmento de edificações quanto no de obras de infraestrutura (energia, transporte e saneamento básico). Aqui está a grande demanda por engenheiros. “O país carece, sobretudo, de profissionais com alta qualificação para aprimorar a tecnologia de construção e elaborar projetos técnicos de infraestrutura”, salienta Gusso.
Petróleo e Gás
A indústria brasileira de petróleo e gás tem imenso potencial de crescimento, principalmente com a exploração do pré-sal. A Petrobras selou parceria com uma rede de universidades, com destaque para a Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para financiar a pesquisa científica nesse campo. “O sistema de inovação da Petrobras viabilizou a exploração em águas profundas. Hoje a empresa é referência mundial e um modelo a ser copiado por outros segmentos da indústria”, comenta Gusso, do Ipea.
Pesquisa na indústria
A maioria dos cientistas e pesquisadores brasileiros atua nas universidades. No entanto, é cada vez mais comum encontrá-los na indústria. Um nicho em expansão são os departamentos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de um seleto grupo de empresas nacionais (como a indústria de cosméticos) e de algumas multinacionais, como as do setor automobilístico. Para a empresa, fazer a pesquisa em casa barateia o produto e garante profissionais capazes de realizar projetos adequados à cultura do país. Para o profissional, a abertura da indústria aos pós-doutorados significa mais oportunidades de trabalho.
A engenheira química Isis Santos Costa, de 31 anos, fez mestrado na USP. Ela conta que fez essa opção muito em função da demanda por esses profissionais no Brasil. Hoje, a engenheira é coordenadora de pesquisa e desenvolvimento de uma empresa de tecnologia em engenharia térmica, a Æstus Industrial Solutions. “O mestrado ensinou-me a captar os pontos essenciais e conferir coesão a todos os elementos que constituem o objeto de estudo. Essa é uma habilidade importante na prática da engenharia, sobretudo para quem atua no setor produtivo”, conta ela.
Pequenos mas Promissores
O empreendedorismo também ganha força na geração de tecnologia para o setor produtivo. Um número crescente de mestres e doutores vem transformando suas teses em negócios, ou seja, montando empresas fornecedoras de tecnologia com base na pesquisa científica desenvolvida por eles mesmos na universidade. Na fase inicial de implantação, essas empresas são auxiliadas por uma entidade promotora de tecnologia (incubadora), que oferece infraestrutura e suportes administrativo, financeiro e jurídico ao negócio nascente.
Depois que o empreendimento dá certo, desliga-se da incubadora e se torna uma empresa independente. É o caso da MVisia, empresa voltada para a criação de soluções inovadoras em controle e automação de processos produtivos. A empresa foi criada por três colegas da Escola Politécnica, da Universidade de São Paulo (Poli-USP), que se reencontraram na pós-graduação. E a empresa nasceu do projeto de pesquisa desenvolvido por um dos sócios, Luiz Otávio Lamardo Alves Silva, no mestrado em Engenharia da Computação. “No mestrado, conheci tecnologias de ponta. Depois, a busca por aplicações comerciais para a tecnologia apresentada em minha dissertação viabilizou a criação da MVisia”, conta o engenheiro.
O primeiro produto já está no mercado: um equipamento que separa mudas de plantas ornamentais. Usando a tecnologia de inteligência artificial, a máquina “aprende” a identificar as características de uma muda – como tamanho ou fase de desenvolvimento – pela análise de uma foto. Depois, faz o serviço sozinha. “Nossas soluções atendem às necessidades do mercado brasileiro, pois automatizam a tarefa repetitiva de separar manualmente produtos agrícolas num momento em que a mão de obra no campo é escassa e custosa”, completa Alves Silva.
Fonte: Guia do Estudante